Por: Hélio de Carvalho.
Para início de conversa, lança foi feita para atacar e escudo, para se defender; porém, ambas eram usadas para matar, nos confrontos da época em que estas eram as armas.
Nos dias de hoje, sempre que se fala em arma de fogo o primeiro que vem é o número de mortes, inclusive domésticas, das muitas estatísticas disponíveis mundo afora. O problema é: onde está a estatística que aponta o número de assaltos, homicídios, latrocínios e coisas do gênero que foram evitados em razão de a vítima estar armada e ter disparado um tiro para o alto, por exemplo? Não há. Arma mata, porém é inquestionável que ela também preserva vidas!
No último 15 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto que altera regras para facilitar a posse de armas de fogo, ou seja, a possibilidade de o cidadão possuir o equipamento em sua residência ou estabelecimento comercial, visando o aumento de segurança da população. Mas, a Rede Globo insiste em deixar claro que sua opinião é a que vale.
No Fantástico de ontem (20), uma matéria falando sobre o assunto posse de armas – muito bem composta, diga-se de passagem –, a especialista em segurança pública, Ilona Szabó, usou todo aquele blá-blá-blá já bem conhecido e ultrapassado, para tentar desestimular o cidadão em possuir sua arma. Ela argumentou sobre a possibilidade de aumento na taxa de suicídios – geralmente ocasionados pela depressão, doença grave, não por ter arma em casa ou no trabalho. Crescimento de homicídios: quem quer matar usa faca, marreta, até corda.
O fato é que em 2005, por meio de um referendo, 63% dos brasileiros manifestou de forma legítima e inquestionável o seu desejo de possuir uma arma. Daí veio o “golpe” – eita país dos golpes! A Rede Globo, que colocou alguns de seus artistas de primeira linha para apelar à população que votasse pelo desarmamento, se viu “derrotada” ante à vontade do povo. Talvez, tenha sido a primeira grande derrota “global” aos movimentos populares via Internet.
Antes que as campanhas de “sim” e “não” começassem a ser veiculadas, pesquisas indicavam que a população seria favorável ao desarmamento: 83% em São Paulo, 82% no Rio e 70% no Paraná (como informava O Globo, em sua edição de 26 de junho de 2005, cujo título era “Campanha já tirou de circulação 360 mil armas”). Entre 2003 e 2004, o número de armas roubadas havia caído 60% e o de acidentes e internações por ferimentos a bala, 10,5% no Rio. Porém, à medida em que a data prevista pelo Estatuto do Desarmamento se aproximava — 23 de outubro — houve uma “corrida armamentista”, com alta de 160% nas vendas e a certeza de que o assunto era, na verdade, muito mais controverso do que se havia “planejado”. O referendo ficou assim: 63,68% dos votos, contra o desarmamento e 36,11% a favor. Uma lavada!!!
Mas, as ações pelo desarmamento continuaram, como se o plebiscito não tivesse acontecido ou seu resultado ter sido desimportante. Nos anos 2000, ações de combate a armas de fogo se tornaram um assunto frequente nas páginas de O Globo. No ano seguinte ao plebiscito, o governo começou a recolher as armas entregues espontaneamente pela população.
O Senador José Sarney defendeu a realização de um novo plebiscito, mas não encontrou apoio. Já em 2013, a edição do dia 13 de abril do jornal O Globo mostrava que a “bancada da bala” havia apresentado 41 projetos de lei visando ao enfraquecimento da Lei 10.826. Um deles, de autoria do deputado Rogério Mendonça (PMDB-SC), pretendendo revogar por completo o Estatuto.
Cidadãos sem armas, bandidos armados até os dentes, fuzis e munições entrando “livremente” pelas fronteiras de nosso país, trabalhadores sendo assassinados por causa de um celular – comprado em 18 vezes no carnê das Casas Bahia – e mulheres sendo violentadas e assaltadas por homens que se valem da força bruta – nem precisam de arma. Este é o quadro que fez de Bolsonaro vencedor da eleição presidencial fazendo gesto de arma com o dedinho.
Recomendo, humildemente, à Globo que continue falando do motorista laranja e esquecer, de vez, o assunto desarmamento do cidadão de bem.
Se for possuir uma arma e esbarrar com um bandido em sua casa, use-a sem moderação.