Antes de qualquer prejulgamento – coisa que o brasileiro mais sabe fazer – quero dizer que, se alguém tinha de sair morto, foi, sim, melhor que o sequestrador tenha morrido do que qualquer uma das 37 vítimas.
Sinceramente, eu ainda prefiro que a mídia e os especialistas critiquem a ação da polícia em um caso em que o criminoso foi abatido, do que uma vítima assassinada, como no caso daquela passageira do 174, há nove anos. Mas, gostaria de provocar uma reflexão sobre algumas coisas que considero relevantes neste contexto.
Primeiro: a eficiência do tiro
Penso que se o sequestrador tivesse algum detonador ou uma vítima sob sua mira, um tiro que não fosse na cabeça – como se espera de um atirador de elite – poderia ter tido um outro desfecho.
O Rio de Janeiro é uma cidade de grandes eventos, que recebe autoridades internacionais e, por esta razão, precisa preparar melhor seus snipers. Foram seis tiros, mas não sabemos qual deles foi o fatal. Bastaria um, na cabeça.
Segundo: a comemoração estilo “gol no maraca”, do governador
Confesso que fiquei estonteado ao assistir o vídeo que o Witzel postou em sua conta no Instagram, se dirigindo aos passageiros do ônibus, falando que tal episódio aconteceu porque falta Deus no coração das pessoas... Como justificativa à sua vibração, digna de um torcedor fanático, quando seu time vira o jogo no último minuto, o governador disse que celebrou a vida das vítimas, não a morte do sequestrador.
Governador, continue fazendo o teu trabalho, mas procure tratamento, com um bom profissional!
Terceiro: o perigo da depressão
Willian Augusto da Silva, de 20 anos de idade, provou, se é que alguém ainda tem dúvida, o perigo dessa doença chamada depressão. O ED fez um especial sobre este mal, em seu canal no YouTube, depois que três jovens em Miguel Pereira se suicidaram. Querer morrer, querer matar... é o que esta doença silenciosa faz, em seu estágio avançado. É claro que seus efeitos não anulam a lei e, ainda que tomado por um mal desta gravidade, se cometer crime precisa pagar, conforme determinam as leis deste país. Entretanto, parece ter ficado bem exposto no episódio de ontem que se o sequestrador sofria de depressão, outras pessoas e o próprio governador, com suas atitudes, comportamentos e comentários nas redes sociais, também podem estar apresentando algum tipo de mal que, se for o que estou suspeitando e, em se tratando de uma abrangência social, pode, de fato, colocar em risco a vida de uma nação inteira!
Digo isto porque uma coisa é se sentir aliviado com o desfecho de um caso onde todas as vítimas foram salvas. Outra coisa é expressar a sua satisfação por ver um criminoso ser abatido a tiros e, pior, comemorar.
É bem verdade que o tiro, dentre os seis, que matou o sequestrador encerrou o triste episódio de forma satisfatória – todas as vítimas tiveram suas vidas preservadas. Mas, vamos combinar que ver imagens de gente soltando pipa, jogando baralho, vendendo salgadinho enquanto dezenas de inocentes sofriam o terror de um sequestro e ameaças de morte por um homem descontrolado com uma arma na mão, presos dentro de um ônibus na ponte... não pode ser considerado normal.
Concluindo, o governador Witzel prometeu em campanha usar snipers e está cumprindo. Muita gente votou nele por aceitar suas propostas e isto precisa ser respeitado. Viva a democracia!
O fato é que se livrar de um político, que tem prazo de validade no poder, é fácil. Difícil é conceber que tais políticos são postos no poder por uma boa fatia da sociedade, sociedade esta que apresenta, via redes sociais, um comportamento doentio de insensibilidade à dor e ao sofrimento alheio – não me refiro ao sequestrador nem à sua família, somente. Refiro-me, principalmente, às vítimas que, ao meu entender, mais foram salvas pela graça de Deus do que pelos tiros.