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A pandemia da desinformação na luta contra a covid-19 no Brasil | Riobrasil Noticias

A pandemia da desinformação na luta contra a covid-19 no Brasil

A pandemia da desinformação na luta contra a covid-19 no Brasil

28/12/2020 12:33:00 | Rio de Janeiro | Fonte: Jornal em Destaque

Seja em
salas de espera de hospitais, em grupos de WhatsApp ou até mesmo em celebrações
religiosas, um dos assuntos dominantes das últimas semanas é a multiplicação de
mitos, mentiras e teorias conspiratórias contra as vacinas da covid-19. Os
relatos vão do medo da implantação de um chip no cérebro até a falsa
possibilidade de contrair câncer ou HIV - tudo decorrente do turbilhão de
notícias falsas espalhadas a rodo pelo país, em uma verdadeira pandemia de
desinformação. Em uma celebração religiosa em Fortaleza, na última semana,
fiéis ouviram do pastor: "
Depois que essa substância entrar no nosso
organismo vai atingir o nosso DNA"
. O Ministério Público do Estado reagiu
e pediu responsabilização criminal do pastor. Dias depois, o discurso
do presidente Jair Bolsonaro de que "
se você virar um jacaré, é um
problema seu"
 se juntou a este corpo de teorias da conspiração que lançam
dúvidas na população e já impactam na intenção dos brasileiros se vacinarem -
embora a ampla maioria da população diga que tomará a vacina, cresceu o
percentual de quem não quer se vacinar (de 9% em agosto para 22% neste
mês, segundo o Datafolha). Obviamente, ninguém se transformará em um réptil ou terá
um chip colocado dentro de seu corpo ao tomar a vacina. No entanto, diante de
tantas outras informações difusas, como saber o que é mito e quais os cuidados
que devem ser de fato tomados para a vacinação?





Made
in China





Em meio
à guerra ideológica travada no país em torno dos imunizantes, há uma
rejeição de parte da população brasileira à Coronavac, vacina desenvolvida pelo
laboratório chinês Sinovac. O próprio Bolsonaro afirmou há meses que não
compraria "vacinas chinesas", mas nos últimos dias seu Governo já sinalizou que
irá adquirir doses desta vacina, por meio do Instituto Butantan, que fechou contrato
com a Sinovac para fabricar o imunizante em solo nacional. Parte dos argumentos
dos que rejeitam a Coronavac está no argumento de que "o que vem da China não
dura" ou na desconfiança pelo novo coronavírus ter sido identificado inicialmente
lá. Mas, o fato é que a Saúde brasileira já é dependente do país asiático há
muito tempo. "
Todos os remédios que fazemos no Brasil para doenças endêmicas
têm matéria-prima chinesa"
, diz a pneumologista Margareth Dalcolmo.





Até mesmo o
insumo que a Fiocruz usará para produzir o imunizante desenvolvido pela
britânica Astrazeneca - a aposta principal do Governo brasileiro - é chinês. "
As
pessoas têm que entender, para acabar com esse preconceito até ingênuo sobre a
vacina chinesa, que a China é o maior produtor de insumos em biotecnologia no
mundo. É tudo chinês"
, afirmou Dalcolmo em uma entrevista
ao programa Roda Viva
.





As vacinas
podem gerar efeitos colaterais?





As declarações
mais recentes de Bolsonaro continuam auxiliando narrativas de desconfiança
sobre as vacinas - desta vez, sobre o primeiro imunizante contra a covid-19 a
conseguir autorização emergencial no mundo, a da Pfizer. O presidente criticava
supostas exigências do laboratório, ao não se responsabilizar por eventuais
efeitos adversos em um evento da Bahia, quando disparou: "
Se você virar um
jacaré, é problema seu"
. E continuou: "Se você virar Super-Homem, se
nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles não
têm nada a ver isso. E, o que é pior, mexer no sistema imunológico das pessoas"
.





Os mitos
levantados pelo presidente são claramente impossíveis de acontecerem, mas geram
confusão, especialmente diante das notícias de efeitos adversos do imunizante
da Pfizer nos EUA e no Reino Unido. Mas o que aconteceu, de fato? Quatro
profissionais de saúde - três deles com histórico de alergia grave -
apresentaram reação alérgica após tomar o imunizante. As agências reguladoras
dos países então agiram rapidamente e retiraram a indicação apenas para
este público, de maneira que a vacina segue sendo distribuída e aplicada.





Qualquer
vacina pode, sim, apresentar reações adversas em uma pequena parcela de quem a
recebe, mas em geral estes efeitos costumam ser leves - como dor de cabeça,
febre e dor no local da aplicação. Alergias graves, por exemplo, são raras.
Para que um imunizante seja distribuído de forma emergencial, ele precisa
demonstrar níveis de segurança e eficácia rigorosos às agências reguladoras.
Mas o esforço da ciência para desenvolver vacinas em tempo recorde
contra o coronavírus também têm gerado muita desconfiança. Afinal, todas as
fases dos testes foram realmente cumpridas?





Desenvolvimento
rápido não significa menos segurança





A biomédica
Mellanie Fontes-Dutra explica que o processo de estudos para o
desenvolvimento das vacinas contra a covid-19 é bem similar ao de outras
vacinas em épocas de não pandemia. A celeridade de respostas vem principalmente
de duas situações: o maior investimento de empresas e Governos diante de uma
economia mundial nocauteada pelo vírus e as pesquisas prévias desenvolvidas
anteriormente por um imunizante contra outros tipos de coronavírus, causadores
das doenças SARS e da MERS. "
Esta é a velocidade que a ciência responde
quando tem investimento"
, afirma Fontes-Dutra.





Os
resultados ainda foram acelerados e ganharam mais robustez diante da alta
transmissibilidade do vírus, especialmente no Brasil. "
Isso aumenta a
frequência de eventos, que é o foco da fase 3 das pesquisas, para verificar se
o imunizante é realmente seguro e capaz de proteger as pessoas que o
receberam"
, explica a biomédica. Ela diz que o aval das agências
reguladoras reforça a segurança destes medicamentos, mas pondera que, até o
momento, as vacinas contra a covid-19 foram testadas em pessoas acima de 16
anos e que é preciso conferir a indicação de cada uma delas para
saber qual o público-alvo a que ela se destina.





Quem já
teve covid-19 também deve se vacinar





Até o
momento, nenhuma das vacinas é indicada, por exemplo, para crianças e
gestantes, já que não há estudos específicos para estes grupos. Mas os
laboratórios avançam nas investigações. A Pfizer, por exemplo, já começou a
estudar a aplicação em crianças acima de 12 anos. "
Em geral, os grupos [de
pessoas que devem tomar a vacina] foram muito bem delineados, de acordo com
idade e etnia, para termos diferentes fundos genéticos. A vacina é bastante
segura e bem tolerada. O risco de eventos adversos mais severos é muito baixo"
,
explica Fontes-Dutra.





O presidente
Bolsonaro já disse que não se vacinaria porque tem anticorpos, mas o próprio
Ministério da Saúde do seu Governo indica que pessoas que já tiveram a doença
devem tomar o imunizante - desde que não esteja com a infecção pelo coronavírus
ativa. A ciência ainda não consegue responder por quanto tempo dura a
proteção de quem desenvolveu anticorpos. Mesmo no caso das vacinas, este
dado só virá com a observação nos grupos vacinados.





É mentira
que a vacina pode alterar o DNA humano





As primeiras
vacinas na iminência de serem aprovadas em agências internacionais são de uma tecnologia
nova, que usa o chamado RNA mensageiro para proteger contra a
covid-19. É o caso, por exemplo, dos imunizantes da Pfizer e da Moderna. Não
demorou para surgirem teorias de que elas poderiam alterar o DNA humano.





"Isso não
é possível"
, explica Fontes-Dutra. Este tipo de vacina emprega o RNA
mensageiro como forma de ajudar na produção de uma proteína. Mas estas
proteínas são fabricadas em uma região das células humanas distante e muito
diferente do núcleo, que é onde está o material genético. "
É como se o
núcleo fosse uma fortaleza e permitisse apenas a entrada de coisas muito
específicas ali. Não tem como este RNA entrar no núcleo para interagir com o
DNA"
, explica a biomédica. Após a produção da proteína, o RNA da vacina é
destruído.





Há risco
de contrair câncer ou HIV pela vacina?





Outro mito
criado em torno das vacinas é que elas poderiam causar câncer ou até
transmitir HIV. No entanto, nenhum dos imunizantes contra a covid-19 em
estágio avançado de desenvolvimento usa o vírus HIV. Tampouco foi observada até
o momento qualquer relação causal entre a aplicação da vacina e o
desenvolvimento de tumores. "
Não faz sentido e não se sustenta esta
preocupação. O que pode ter acontecido é uma associação temporal, sem relação
de causa e consequência com o imunizante"
, afirma Fontes-Dutra - ou seja,
alguém ter desenvolvido um tumor enquanto tomava a vacina, mas sem relação
entre as duas coisas.





Segundo ela,
os medicamentos apresentados até agora têm bom perfil de segurança, de maneira
que preocupações como estas não se justificam. "
As pessoas têm receio
pelos movimentos antivacina, mas quando a gente olha, as doenças que dizem
que estão associadas não têm relação de causa e consequência"
, aponta.





Narrativas e
fake news como estas, diz a pesquisadora, são muito perigosas,
especialmente em um momento em que o país vive a maior crise sanitária do
século e já acumula mais de 184.000 mortes pela covid-19. No plano de vacinação
apresentado na última semana, o Ministério da Saúde estima que 70% da população
brasileira precisará ser vacinada contra a covid-19 para uma imunização
coletiva. "
Vivemos uma infodemia, e a gente vê isso não só com a vacina
contra a covid-19, mas nas coberturas vacinais desde 2018. Existe uma queda
muito importante na cobertura de várias vacinas já aprovadas e distribuídas no
SUS. É muito perigoso"
, diz Fontes-Dutra.





A vacina
não é uma solução mágica para a pandemia, mas é uma arma crucial que o
mundo começa a dispor para contê-la - e que não pode ser inutilizada por
mentiras.

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